APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE AUTOPERCEPÇÃO AUDITIVA COMO COMPLEMENTAÇÃO DA AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA EM IDOSOS
Lisboa, H.M. ;
FERNANDES,F.S. ;
O tema envelhecimento é abordado cada vez mais, tanto nos países desenvolvidos, quanto nos em desenvolvimento. Dentro desta temática, destaca-se a deficiência auditiva. Esta, quando relacionada à idade, é mais habitual em idosos, visto que há um processo de envelhecimento natural, a presbiacusia. Dificuldades auditivas na população geriátrica acarretam consequências negativas do ponto de vista social, emocional, além da qualidade de vida como um todo. A senectude vem se tornando um campo de estudo em diversas áreas. Fonoaudiólogos se empenham na identificação das alterações auditivas, bem como o seu impacto. O declínio da capacidade auditiva é acompanhado de diminuição na compreensão de fala, dificultando a comunicação e relações sociais. Tão importante quanto o social, são as emoções negativas que surgem, como, insegurança, pavor, indecisão, inaptidão e inquietude da possível evolução do grau de perda auditiva. Assim, todo o funcionamento auditivo que envolve não só o ‘ouvir’, mas a compreensão e as consequências do que é ‘ouvido’. Considerando este aspecto audição em idosos requer atenção especial de profissionais, como audiologistas e gerontologistas. Entendemos que por ser uma questão primordial de saúde pública, o quanto antes for diagnosticada a perda auditiva menor será o impacto na qualidade de vida. O presente estudo, aprovado pelo Comitê de Ética Institucional (4688.820) teve por objetivo demonstrar as perdas auditivas inerentes ao processo natural de envelhecimento biológico do idoso e a autopercepção de suas alterações psicossociais. Consideramos que a mensuração do impacto do déficit auditivo não ocorre apenas através dos exames audiométricos. Com isso em mente, foi aplicado o questionário padronizado, o HHIE-S (Hering Handicap Inventory for the Elderly – Screening) com intuito de auxiliar na identificação das desvantagens acometidas pela presbiacusia, relacionado às alterações psicossociais. Os resultados demonstraram 92% dos idosos apresentaram perda auditiva, sendo a maioria de grau leve e moderado. Dos entrevistados 68,8% dos idosos, ao responder o HHIE-S, indicam dificuldades para ouvir quando alguém lhe sussurra. Verificamos que 52,1% dos participantes apresentam uma dificuldade de compreensão e de ouvir a televisão ou rádio. Contudo, somente 50% dos idosos avaliados revelaram percepção de handicap auditivo. Conclui-se então que houve uma alta prevalência de perdas auditivas sem percepção das desvantagens geradas pela mesma. Acreditamos que a perda auditiva é um tema cercado de preconceitos e desta forma, pacientes podem se sentir pouco encorajados em apontar suas reais dificuldades auditivas questionadas no HHIE-S ou mesmo em breves anamneses realizadas em consultas de saúde, dificultando por vezes a sua identificação precoce. A sociedade tende a ver pessoas com deficiências com preconceito, considerado este um incapaz. O idoso não quer ser visto como impotente ou incapaz, e por vezes acredita conseguir camuflar suas dificuldades auditivas. Todavia, a não aceitação das dificuldades auditivas, ocasiona numa ausência de tratamento, podendo agravar a frustração em não ouvir e levar o indivíduo ao isolamento social e transtornos emocionais. Assim, recomendamos o HHIE-S como complementação diagnóstica e não como ferramenta de triagem de perda auditiva em idosos, já que perdas leves e moderadas podem não ser facilmente detectadas em questionário e autopercepção auditiva.
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