Encontro Internacional de Audiologia

ANAIS - TRABALHOS CIENTÍFICOS

PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR MEDICAMENTOS OTOTÓXICOS EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO.
MARIOTTO, L. G. S. ; SANCHES, J. F. ; SOARES, A. C. A. ; LOPES, A. C. ;

O câncer é uma doença que atinge todas as idades e uma das principais causas de mortalidade. Muitos avanços ocorreram no tratamento e cuidado com esses pacientes, o que aumentou a sobrevida. Atualmente as modalidades terapêuticas são a cirurgia, radioterapia e quimioterapia. A quimioterapia trata-se de uma terapia sistêmica, com inserção de medicamentos na corrente sanguínea. São mais de 200 tipos de drogas utilizadas, que podem ser consideradas ototóxicas. Tais fármacos são de diferentes classes, aminoglicosídeos, agentes antineoplásicos, antibióticos, anti-inflamatórios não esteroidais, diuréticos e anti-hipertensivos. Os derivados de platina são os mais devastadores e apresentam como efeitos colaterais, náuseas, vômitos, nefrotoxicidade, mielossupressão e ototoxicidade, quando em doses cumulativas. Cerca de 40-80% dos adultos e 50% das crianças tratados com quimioterapia à base de cisplatina, tiveram perda permanente da audição. A utilização dessa droga pode danificar estruturas da orelha interna e causar uma perda auditiva sensorioneural bilateral, progressiva e irreversível. Tal dano atinge inicialmente as frequências altas da cóclea, o que compromete as frequências da fala, que são de suma importância para o desenvolvimento da linguagem infantil. Objetivo: descrever o perfil audiológico, os diferentes procedimentos utilizados para a avaliação da audição, assim como identificar e analisar os efeitos dos medicamentos. Metodologia: a partir da revisão integrativa da literatura foram apresentadas evidências científicas identificadas em periódicos nacionais e internacionais, acessados eletronicamente em bases da BVS, PubMed, BDTD, Scielo e Portal da CAPES, no período entre 2015 a 2020, nos idiomas português e inglês. Os resultados evidenciaram 954 artigos e 10 foram selecionados para análise. As evidências demonstraram que diversos fatores podem influenciar na ototoxicidade do tratamento, tais como a dosagem, idade, modo de administração e o uso de outros ototóxicos concomitantemente. A dosagem média considerada o limite para a ototoxicidade, foi de 400 mg/m² em crianças e 600 mg/m² nos adultos. A gravidade da ototoxicidade se mostrou estar inversamente relacionada à idade, crianças mais jovens apresentam maiores graus de perda auditiva após o tratamento. O modo de administração se mostrou ser mais ototóxico em infusão em bolus. A cisplatina é acumulada gradualmente na cóclea, que possui reduzida capacidade de eliminação. Ocorrendo a degeneração das células ciliadas mecanossensoriais do órgão de corti, neurônios do gânglio espiral e do ligamento espiral e estria vascular. A perda auditiva pode ocorrer durante ou após tratamento e por esse motivo é importante o acompanhamento pré, durante e pós, para ter uma linha de base e mensurar os sinais. Existem diversas escalas e protocolos que visam tal identificação, o SIOP mostrou-se o mais recomendado e completo, enquanto o CTCAE o menos. Com relação aos exames realizados, a audiometria de alta frequência se mostrou mais eficaz para identificação precoce, seguida das EOAPD e audiometria convencional. Conclusão: essa revisão de literatura compilou achados de estudos relevantes e contribuirá para a prática clínica no diagnóstico precoce das perdas auditivas por ototóxico, assim como o monitoramento da audição em pacientes oncológicos.

OLIVEIRA, Priscila Feliciano de et al. Cancer treatment in determination of hearing loss. Braz. j. otorhinolaryngol., São Paulo, v. 82, n. 1, p. 65-69, Feb. 2016.

BREGLIO, Andrew M.; et al. Cisplatin is retained in the cochlea indefinitely following chemotherapy. Nature Communications. vol. 8, n.1, p. 1654. 21 Nov. 2017

TRENDOWSKI, Matthew R.; et al. Genetic and Modifiable Risk Factors Contributing to Cisplatin-induced Toxicities. Clinical cancer research : an official journal of the American Association for Cancer Research vol. 25, n. 4, p. 1147-1155, 2019.

ROMANO, A. et al. Assessment and management of platinum-related ototoxicity in children treated for cancer. Cancers, v. 12, n. 5, p. 1–15, 2020.

BROOKS, B.; KNIGHT, K. Ototoxicity monitoring in children treated with platinum chemotherapy. International Journal of Audiology, v. 57, n. sup4, p. S34–S40, 2018.
DADOS DE PUBLICAÇÃO
Página(s): p.218
ISSN 1983-1793X
https://audiologiabrasil.org.br/36eia/anais-trabalhos-consulta/218