Encontro Internacional de Audiologia

ANAIS - TRABALHOS CIENTÍFICOS

EXISTE RELAÇÃO ENTRE O TAMANHO DO CRÂNIO DE CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR EXPOSIÇÃO GESTACIONAL AO ZIKA VÍRUS E AS LATÊNCIAS DO POTENCIAL EVOCADO DE CURTA LATÊNCIA?
Almeida, C. ; Borja, A. ; Azevedo, M. H. M. ;

Introdução: Um espectro extenso de anormalidades relacionadas à infecção gestacional pelo zika vírus (ZIKV) foram descritos na literatura, tais como a microcefalia, alterações corticais e subcorticais, oftalmológicas, auditivas e outras deformidades presentes ao nascimento. Muitos estudos tentaram associar a gravidade do comprometimento neurológico da criança ao trimestre de infecção materna ou ao perímetro cefálico, todavia não há uma relação sistemática entre esses fatores. Em relação a audição, não há disponibilidade de estudos histológicos em humanos que indicassem alterações morfológicas nos órgãos e/ou nas vias auditivas relacionados à infecção pelo ZIKV. Permanece a dúvida se as alterações auditivas são provenientes do efeito direto do próprio vírus ou de uma reação imune do hospedeiro. Na maioria dos estudos, na perda auditiva associada à infecção viral congênita o dano auditivo é predominantemente coclear. A prevalência da perda auditiva em crianças expostas ao ZIKV variou entre 5,5 e 6,0% nos diversos estudos. Objetivo: Verificar se há relação entre as latências do potencial evocado auditivo de curta latência e o perímetro cefálico em crianças com microcefalia expostas ao ZIKV na gestação. Metodologia: Estudo transversal, retrospectivo e descritivo. A amostra foi composta por crianças expostas ao ZIKV, com microcefalia, perímetro cefálico (PC) inferior a ≥ -2 desvios-padrão, nascidas entre 04/2015 e 12/2016, encaminhadas para o ambulatório de confirmação de microcefalia relacionado ao ZIKV de um hospital de referência e avaliadas no ambulatório de Eletrofisiologia da mesma instituição. Todas realizaram Emissões Otoacústicas por Transientes (EOAt) e Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) nas intensidades de 80/30 dB. As EOAt foram realizadas com o equipamento GN Otometrics MADSEN® AccuScreen Mod 8-04 aceitando-se uma relação sinal ruído mínima de 6dB. O PEATE foi realizado com o equipamento Eclipse ABR EP-25 da Interacoutics®, eletrodos descartáveis posicionados no sistema internacional 10/20 (Vértex (Cz) e mastoides direita (A2) e esquerda (A1)), fones de inserção (3A), com taxa 21,7 clicks/s e 2000 estímulos, aceitas impedâncias máximas de 5 Ohms. Resultados: Foram avaliadas 33 crianças, 69,7% tinham PCR materno confirmando a infecção, 54,5% do sexo feminino, 81,8% nascidas a termo, 33,6% tinham PC ≤ -3 desvios padrão do Intergrowth-21st, idade gestacional média de 38,7+/-1,51 semanas, sendo que 36,4% das genitoras foram infectadas no primeiro trimestre da gestação. Todas as crianças tiveram EOAT presentes bilateralmente e respostas eletrofisiológicas claras a 80 e 30 dbNA, bilateralmente. O teste t pareado não mostrou diferença entre as latências médias das orelhas. Na análise de variância (ANOVA) verificou-se que as médias das latências absolutas das ondas I, III e V foram menores quando comparadas aos padrões de normalidade para idade (p<0,000). Todavia, embora menores, não foram observadas diferenças entre os intervalos interpicos I-III, III-V e I-V. Conclusão: Crianças expostas ao ZIKV e microcefalia apresentaram latências médias absolutas menores do que crianças normocefálicas da mesma idade e intervalos interpicos semelhantes. Não houve relação entre o perímetro cefálico e as latências do PEATE. Acredita-se que alterações no comprimento e espessura do tronco encefálico, bem como o encurtamento da porção distal do VIII nervo provoquem respostas mais precoces nesta população.

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DADOS DE PUBLICAÇÃO
Página(s): p.310
ISSN 1983-1793X
https://audiologiabrasil.org.br/36eia/anais-trabalhos-consulta/310