HÁ UMA CORRELAÇÃO ENTRE PERDA AUDITIVA, ZUMBIDO E IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA?
Fernandes, F.S. ;
França, F.G. ;
O zumbido é uma percepção fantasma de tom ou ruído na ausência de qualquer fonte sonora. Possui natureza heterogênea nas causas, manifestações clínicas e impactos psicológicos. Uma grande variedade nas respostas ao seu tratamento, instigam novas pesquisas. Certos estudos apontam uma correlação positiva entre o aumento da prevalência de zumbido e a idade. No entanto, permanece obscuro se há relação direta da idade e o tempo de instalação com a gravidade do sintoma. Encontramos descrito na literatura que o zumbido pode ser potencializado quando ocorre juntamente com algum tipo de perda auditiva. Em estudo com brasileiros, entre 7 e 95 anos, todos com queixa de zumbido, observou-se que, a ocorrência de perda auditiva é progressivamente maior à medida que a idade aumenta, o que coincide com a elevação da incidência de perdas auditivas. Alguns estudos sugerem que zumbidos mais severos foram associados à perda auditiva em agudos. Outras pesquisas constataram que, perdas auditivas clinicamente mais importantes, em pacientes com zumbido, estavam associadas à ansiedade e depressão como reação à deficiência auditiva, o que poderia influenciar também no impacto do zumbido. Ainda é incerto se a perda auditiva funcionaria somente como o gatilho para o início do zumbido ou se seria também preditor de sua gravidade e handicap. Diante do exposto, objetivo deste trabalho é identificar a correlação da perda auditiva com o zumbido, bem como os impactos negativos do zumbido na qualidade de vida dos pacientes que responderam ao THI - Tinnitus Handicap Inventory. Para este fim, avaliamos 38 pacientes com zumbido encaminhados para avaliação audiológica em um hospital público do interior do Rio de Janeiro. (4.448.144). Verificamos a autopercepção do zumbido, mediante a aplicação do THI, além da realização da audiometria tonal, vocal e imitanciometria. Houve uma maior prevalência do zumbido nas mulheres, e em ambos os sexos, o maior acometimento foi na faixa etária de 40 e 50 anos. Metade afirmou ter zumbido de 1 a 3 anos. Vinte e um pacientes relatam zumbido em ambas as orelhas. Apenas metade dos participantes apresentou perda auditiva sensorioneural de graus variado. Não houve relato de interferência do zumbido na discriminação vocal. Todos os participantes apresentaram timpanometria do tipo “A”. No THI, os piores scores relacionaram-se às escalas funcional e emocional. Apenas 21,1% dos participantes já se submeteu a algum tratamento, e destes, apenas 2 obtiveram melhora. Concluímos que a presença do zumbido em indivíduos sem perda auditiva destaca-se como uma informação relevante. Isso nos leva à refletir pois, a perda auditiva, parece não ser um fator causal determinante do aparecimento do zumbido nem decisiva quanto ao impacto do zumbido na qualidade de vida. O THI confirmou que o incomodo provocado pelo zumbido acomete tanto sujeitos com e sem perda auditiva, nos aspectos mentais, sociais e afetivos como ansiedade, raiva e depressão. Dados obtidos mediante questionários e avaliação audiológica constituem abordagens complementares objetivando melhor compreensão do sujeito e dos fatores que podem influenciar o impacto do zumbido na qualidade de vida além de oferecer direcionamentos para as terapias.
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