TREINAMENTO AUDITIVO COGNITIVO PARA IDOSOS: UM ESTUDO DE CASO
Moreira, H.G. ;
Brasil, A.L.M. ;
Malavolta, V.C. ;
Bruckmann, M. ;
Garcia, M.V. ;
Introdução: As queixas dos idosos acerca da dificuldade de comunicação em ambientes acusticamente desfavoráveis é algo frequente. Tais dificuldades podem ser decorrentes de perda auditiva ou de déficits no Sistema Nervoso Auditivo Central relacionados ao avanço da idade. Para isso, é necessária uma intervenção por meio de programas baseados no treinamento auditivo e na melhora do sinal acústico, associada ao emprego de estratégias de linguagem, cognitivas e metacognitivas, pois promoverão a plasticidade e a reorganização cortical nesses indivíduos. Objetivo: Criar um protocolo de treinamento auditivo e cognitivo para idosos com seis sessões e analisar a eficácia do mesmo por meio de um relato de caso. Método: Estudo de caso aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa sob o protocolo número 23081.019037/2017-19, sendo realizado em três etapas: (1) Seleção de materiais, composto por materiais existentes e outros confeccionados pelos autores, (2) Análise de juízes especialistas, para consenso quanto às habilidades avaliadas e tipo de treinamento e, (3) Aplicação do protocolo em uma idosa de 61 anos, destra, com cinco anos de escolaridade, sem alterações de orelha média, com limiares auditivos dentro dos padrões da normalidade em ambas as orelhas, com dificuldade de compreensão de fala em ambientes acusticamente desfavoráveis e queixas de memória. Foi realizado uma bateria de testes para avaliação pré e pós intervenção, composta por avaliação cognitiva e auditiva (Montreal Cognitive Assessment- MOCA, Randon Gap Detection Test- RGDT, Teste Dicótico de Dígitos-TDD, Teste de Fala com Ruído e Potenciais Evocados Auditivos de Longa Latência- P1, N1, P2, N2, P300). Para análise dos dados foi realizada uma análise qualitativa para comparar as respostas nos testes de avaliação cognitiva e auditiva pré e pós intervenção. Resultados: Foi possível a estruturação do protocolo de acordo com as sugestões das juízas especialistas, o que gerou uma nova proposta de treinamento auditivo e cognitivo com 39 tarefas dispostas em seis sessões. A nova proposta terapêutica foi concluída e aplicada. Com a aplicação do protocolo no caso clínico, foi possível observar modificações positivas nos dois aspectos treinados e dentre essas mudanças obteve-se aumento na pontuação do MoCa (15 para 20 pontos), evidenciando melhoras cognitivas mesmo com o teste permanecendo abaixo do escore para normalidade. Além disso, pelos testes comportamentais do PAC observa-se a diminuição no tempo do RGDT (105 para 90ms), aumento de acertos no TDD da orelha esquerda (92,5% para 97,5%), nas porcentagens de acertos do FR para orelha direita (73% para 76%) e para orelha esquerda (88% para 92%) e, principalmente, o eliciamento e normalização do P300 em latência e amplitude, que no pré intervenção estava ausente. Tais resultados indicam melhoras nas habilidades auditivas de resolução temporal, integração binaural e fechamento auditivo, bem como benefícios no processamento da informação auditiva e nas habilidades cognitivas. Conclusão: O caso clínico apresentado obteve melhora pós intervenção nas habilidades auditivas e cognitivas treinadas, e a eficácia foi verificada por meio dos testes comportamentais de processamento auditivo central, de rastreio cognitivo e do potencial evocado auditivo de longa latência.
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