EFEITOS DA CISPLATINA NO SISTEMA AUDITIVO PERIFÉRICO E CENTRAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS
Martins, G. A. ;
Silva, L. A. F. ;
Kamita, M. K. ;
Braganti, M. ;
Cordeiro, M. L. ;
dos Santos, N. C. ;
Odone Filho, V. ;
Matas, C. G. ;
Introdução. A cisplatina é um quimioterápico amplamente utilizado no tratamento do câncer. Entretanto, um de seus efeitos colaterais é a ototoxicidade, levando à perda auditiva neurossensorial bilateral em frequências altas, de caráter irreversível e progressivo, acometendo principalmente crianças menores de 5 anos e expostas a doses cumulativas maiores que 400mg/m2. Além disso, o tratamento pode levar à neurotoxicidade, comprometendo neurônios sensitivos e motores do sistema nervoso. Diante disso, a avaliação do sistema auditivo em pacientes de diferentes faixas etárias submetidos ao tratamento com cisplatina permite caracterizar os achados audiológicos e pode contribuir para o monitoramento auditivo e intervenção precoce nessa população.
Objetivo. Avaliar os efeitos da cisplatina no sistema auditivo periférico e central em pacientes oncológicos pediátricos.
Métodos. Estudo observacional transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (CAAE 53924116.0.0000.0068). A população do estudo foi constituída por pacientes com idades entre os dois e 18 anos, submetidos à quimioterapia com cisplatina. Foram excluídos os pacientes que referiram perda auditiva prévia ao tratamento, foram submetidos à radioterapia em cabeça e pescoço, fizeram uso de outras drogas ototóxicas e/ou apresentaram comprometimento de orelha média no dia da avaliação. Os procedimentos incluíram anamnese, meatoscopia, imitanciometria, Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE), emissões otoacústicas transientes (EOAT) e por produto de distorção (EOAPD), audiometria tonal liminar (ATL), vocal e de altas frequências (AAF). Os dados foram analisados de forma descritiva e inferencial.
Resultados. Dezessete pacientes foram incluídos no estudo. A maioria era do gênero masculino (52,94%) e diagnosticado com osteossarcoma (47,06%) ou hepatoblastoma (29,41%). Os participantes iniciaram o uso de cisplatina entre um e 16 anos e consumiram em média 362 mg/m² de cisplatina. Foram observadas médias dos limiares tonais elevados em frequências altas na ATL (a partir de 4 kHz) e na AAF. Os resultados das EOAT, EOAPD e PEATE mostraram alterações, com destaque para a ausência de EOAPD em frequências mais altas e aumento discreto na latência da onda III (em 47,1% dos pacientes) e do interpico I-V do PEATE (em 12,5% dos pacientes). Não houve correlação entre a média dos limiares da ATL ou da AAF com idade de início do tratamento, dose cumulativa, tempo de tratamento ou quantidade total de cisplatina utilizada.
Conclusão. Crianças tratadas com cisplatina podem desenvolver alterações auditivas, porém muitos pacientes com alteração dos limiares em frequências altas não apresentaram queixas auditivas, possivelmente relacionado ao fato de as frequências da fala estarem ainda preservadas, além da piora progressiva da perda auditiva e da menor demanda comunicativa durante o tratamento devido ao período de afastamento das atividades escolares. Portanto, a detecção precoce da ototoxicidade é essencial, reforçando a importância do monitoramento auditivo, eficaz através de testes como EOAPD e AAF. Pesquisas adicionais são necessárias para explorar a aplicabilidade de testes com diferentes estímulos em amostras mais amplas, considerando faixa etária e dosagem.
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