AVALIAÇÃO ELETROFISIOLÓGICA DA AUDIÇÃO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DOENÇA CEREBROVASCULAR (DCV)
Ubiali, T. ;
Carvalho, N. G. ;
Amaral, M. I. R. ;
Karla M. I. ;
Matas, C. G. ;
Colella-Santos, M. F. ;
Introdução: A investigação das funções auditivas em crianças e adolescentes acometidos por doença cerebrovascular (DCV) é escassa na literatura. No entanto, devido à variabilidade na etiologia, tamanho e local das lesões, assim como da importância do Sistema Nervoso Auditivo Central para o desenvolvimento da linguagem e dos processos de aprendizagem, avaliar o funcionamento das vias auditivas é imprescindível nesta população, a fim de contribuir para o estabelecimento de encaminhamentos e intervenções específicas que contribuam para minimizar os impactos negativos da DCV nos processos de aprendizagem e desenvolvimento global da criança.
Objetivo: analisar os achados da avaliação eletrofisiológica do processamento auditivo central (PAC) de crianças e adolescentes diagnosticados com DCV.
Método: Estudo descritivo e transversal, aprovado pelo comitê de ética (no 505/2010). Participaram nove sujeitos, com média de idade 11,33 (±2,74 anos), destros, diagnosticados com DCV no Hospital da instituição. Foi realizada audiometria completa, imitanciometria e avaliação eletrofisiológica (Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Encefálico - PEATE e Potenciais Evocados Auditivos de Longa Latência – PEALL com P300). Foi utilizado o equipamento IHS, fones de inserção e eletrodos nas posições Cz (ativo), Fpz (terra) e M1/M2 (referência). No PEATE, foi utilizado estímulo clique a 80dBNA com taxa de apresentação 19,1 clique/segundo, totalizando 2000 estímulos em cada promediação e filtro 100 – 3000 Hz. Os PEALL foram coletados com estímulo de fala a 70dBNA, utilizando o paradigma oddball, sendo o estímulo frequente a sílaba /ba/ e o estímulo raro a sílaba /da/ numa proporção de 80/20, taxa de apresentação 1 estímulo/segundo, filtro 1 – 30 Hz e total de 300 estímulos. Foram incluídas somente as crianças que não apresentaram alterações periféricas. Os resultados do PEATE foram analisados segundo os valores de normalidade do IHS, sendo analisadas as latências e amplitudes das ondas I, III e V, os intervalos interpicos I-III, III-V e I-V e a amplitude-ratio (AR) das ondas V-I. Para a análise dos PEALL foram utilizados os valores de normalidade propostos por McPherson (1996), sendo analisadas as latências das ondas P1-N1-P2-N2 e P300 e as amplitudes P1-N1, P2-N2 e P300.
Resultados: No PEATE, dos nove sujeitos avaliados, um apresentou alteração da latência das ondas III e V e três apresentaram a AR das ondas V-I alterada. A média de latência das ondas I, III e V foram, respectivamente, 1,61(±0,14), 3,85(±0,06) e 5,57(±0,20) na orelha direita (OD) e 1,61(±0,09), 3,86(±0,14) e 5,62(±0,18) na orelha esquerda (OE). Nos PEALL, quatro crianças apresentaram alteração (ausência de pico ou latência prolongada) em pelo menos uma orelha e duas crianças tiveram ausência de P300. A média de latência dos componentes P1, N1, P2, N2 e P300 foram, respectivamente: 86,35 (±13,87), 134,78(±22,93), 189,42(±41,44), 251,78(±37,51) e 295,50(±34,24) na OD e 81,50(±10,67), 132,21(±32,90), 187,92(±61,24), 256,07(±66,66) e 302,75(±29,87) na OE. A média das amplitudes P1-N1, P2-N2 e P300 foram: 4,23 (±2,47), 2,37 (±1,09) e 7,41 (±3,26) na OD e 4,19(±2,13), 3,54(±1,71) e 11,12(±6,21) na OE.
Conclusão: Foram encontradas alterações do processamento neural nas vias auditivas desde o tronco encefálico até o córtex auditivo, reforçando a necessidade de avaliação audiológica central em crianças/adolescentes com DCV.
DADOS DE PUBLICAÇÃO