EXPOSIÇÃO À MÚSICA E EFEITOS NA SAÚDE: ESTUDO EM RITMISTAS DE UMA ESCOLA DE SAMBA DE SÃO PAULO
Born, M.C. ;
Lima, C.C. ;
Fiorini, A.C. ;
Introdução. A percepção e interpretação de estímulos sonoros são realizadas pelo sistema auditivo, o qual é responsável pela habilidade do indivíduo em detectar diferentes sons simultaneamente. Apesar de serem caracterizados por ondas de vibração acústica, o termo "som" é empregado para descrever experiências auditivas agradáveis, enquanto "ruído" é utilizado para descrever sons que causam desconforto. Dessa forma, a distinção entre som e ruído torna-se uma questão subjetiva. Prazerosos ou não, quando em níveis elevados e duradouros, os sons podem causar efeitos com, por exemplo, a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR). As pesquisas focam principalmente na exposição ao ruído no trabalho e em atividades de lazer como caça, esportes e música alta em estéreos pessoais, bandas e shows. No entanto, é difícil avaliar os riscos da exposição a música em níveis elevados nas atividades de lazer. Os músicos profissionais, em particular, apresentam altas ocorrências de problemas auditivos e não auditivos, tornando-se uma importante categoria profissional para estudos científicos. Objetivo. Identificar as queixas de saúde decorrentes da exposição à música e avaliar os níveis sonoros durante os ensaios em ritmistas da Bateria de uma escola de samba do Município de São Paulo. Método. Estudo do tipo transversal de inquérito. Os procedimentos incluíram aplicação de questionário para investigar o incômodo e as demais queixas de saúde decorrentes da exposição à música. A avaliação dos níveis de exposição sonora durante dois ensaios foi realizada por meio de dosimetrias de ruído. A amostra foi composta por 75 ritmistas com idade entre 18 e 52 anos. Resultados. A média de idade foi de 27,25, com desvio padrão de 5,99 e mediana de 26 anos. A maioria classificou a audição como boa, muito boa ou excelente (89,3%). Os principais sintomas auditivos foram otalgia (38,7%), zumbido (32%) e plenitude auricular (27%). O uso de fones de ouvido de uma a 12 horas por dia foi citado por 80% (n=60) dos ritmistas. A principal fonte de ruído interno nos locais de ensaio foi o som de instrumentos durante os ensaios e apresentações (96%) e a externa foi o trânsito de veículos no entorno (62,6%). O local de ensaios foi considerado muito ruidoso por 57,2% dos ritmistas. As principais queixas relacionadas ao ruído foram dificuldade de comunicação e incômodo a sons fortes. Do total, 68% dos ritmistas acreditam que o ruído pode provocar alterações auditivas. Os níveis médios ponderados de ruído (Leq - Equivalent level) medidos durantes os ensaios ficaram entre 104,5 e 115,2 dB(A). No teste de qui-quadrado, houve associação positiva entre as variáveis que indicam percepção de algum problema auditivo e as seguintes variáveis explicativas: dificuldade de compreender a fala em ambiente com ruído; zumbido; uso de fone de ouvido; ser ritmista há mais de dez anos e trabalhar como músico profissional. Conclusão. Os ritmistas estão expostos a níveis sonoros elevados durante os ensaios e apresentam tanto sintomas auditivos, quanto não auditivos. Os resultados indicam a necessidade de implementação de ações de proteção à saúde dos músicos.
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