HIPERSENSIBILIDADE AUDITIVA E ALTERAÇÕES OTOLÓGICAS ASSOCIADAS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO
Helena, R. C. S. ;
Crusius, J. S. ;
Riesgo, R. S. ;
Sleifer, P. ;
INTRODUÇÃO: O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por déficits persistentes na comunicação e interação social, contando também com a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Além disso, muitos indivíduos com TEA apresentam hiperreatividade a estímulos sensoriais, estando essa sensibilidade relacionada à atipicidades neurológicas nas estruturas subcorticais, tais como o cerebelo, um dos responsáveis pela aquisição e discriminação perceptual. À vista disso, a hipersensibilidade auditiva pode ser observada quando há um desconforto auditivo frente a estímulos de fraca ou média intensidade ou a determinadas frequências, geralmente agudas. Utilizando medidas subjetivas, como anamnese aplicada aos pais, é possível mensurar se há existência de alguma alteração na sensibilidade auditiva, bem como identificar a existência de possíveis alterações otológicas associadas. OBJETIVO: Analisar os achados da anamnese aplicada aos pais e/ou mães de crianças e adolescentes com diagnóstico de TEA sobre hipersensibilidade auditiva, mensurando a prevalência de queixa de hipersensibilidade auditiva e identificando possíveis alterações otológicas associadas. MÉTODO: Trata-se de um estudo transversal, cuja casuística foi composta por 87 crianças e adolescentes, atendidos em um ambulatório de neuropediatria e autismo de referência, em um hospital público universitário. Os responsáveis responderam a anamnese, com questões envolvendo informações específicas sobre hipersensibilidade auditiva, bem como histórico de patologias auditivas. Foram realizadas análises de frequência absoluta e relativa com intervalo de confiança (IC) de 95%. As análises foram feitas usando o software SPSS, versão 20. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de origem, sob número 77900517.2. RESULTADOS: Dentre os 87 participantes do estudo, 87,4% ( n= 76) eram do sexo masculino e 12,6% (n= 11) do sexo feminino. A idade média foi de 10,1 anos, variando entre 4 e 18 anos (DP± 2,922). Em relação à hipersensibilidade auditiva, 80,5% (n= 70) dos pais relataram que seus filhos possuíam uma resposta hiporresponsível ao som, gerando desconfortos e alterações comportamentais. De acordo com o relato dos responsáveis, dos indivíduos que apresentaram hipersensibilidade auditiva, 17,1% (n = 12) possuíam dor de ouvido, 4,3% (n= 3) apresentaram tontura, 12,9% (n = 9) apresentaram supuração, 25,7% (n= 18) apresentaram coceira no ouvido, 22,9% (n = 16) possuíam histórico de infecções no ouvido, 35,7% (n = 25) possuíam histórico de otite, 10% (n= 7) apresentaram sensação de ouvido tapado e nenhum apresentou zumbido. CONCLUSÃO: Verificou-se elevada prevalência da queixa de hipersensibilidade auditiva dos indivíduos incluídos no estudo, demonstrando uma possível interrupção das respostas neurais e dificuldades de integração das respostas sensoriais no Sistema Nervoso Auditivo Central. No entanto, não houve associação significativa entre hipersensibilidade auditiva e alterações otológicas. Estudos em maior escala devem ser feitos, visando ampliar o conhecimento acerca da hipersensibilidade auditiva em crianças e adolescentes com TEA.
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