DEMÊNCIA E PERDA AUDITIVA: CORRELAÇÃO ENTRE LIMIARES AUDITIVOS, PERCEPÇÃO DOS PREJUÍZOS E DESEMPENHO EM TESTES DE RASTREIO COGNITIVO
Pereira, F. J. M. ;
Machado, T. H. ;
Machado, M. G. ;
Resende, L. M. ;
Introdução: A Organização Mundial da Saúde/Organização Pan-Americana de Saúde definiu 2020 a 2030 como sendo a Década do Envelhecimento Saudável. Envelhecer com saúde significa desenvolver e manter habilidades funcionais que levam ao bem-estar na terceira idade. Um fenômeno presente na população idosa, em relação à audição, é a diminuição dos limiares de audibilidade nas frequências altas, a partir de 4KHz. Estudos apontam que a perda auditiva foi identificada como um dos fatores de risco para demência e declínio cognitivo. Várias hipóteses têm sido propostas para explicar a possível relação entre deficiência auditiva e o declínio cognitivo: algumas sugerem que essa relação é sustentada pela neurodegeneração geral oriunda do envelhecimento; já outras, acreditam que a deficiência auditiva e a privação sensorial estão diretamente ligadas ao comprometimento cognitivo. O objetivo geral deste estudo foi verificar a associação entre audição e desfecho cognitivo. Além disso, caracterizar o perfil audiométrico e cognitivo, verificar a existência de relação entre a percepção da incapacidade auditiva e o estado cognitivo e limiares audiométricos e analisar o desempenho geral e de funções específicas na triagem cognitiva (MEEM). Métodos: A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o número de parecer 5.626.511. Trata-se de estudo transversal, realizado com pacientes com comprometimento cognitivo atendidos em um ambulatório de Neurologia Cognitiva e do Comportamento. Os participantes foram submetidos a breve anamnese sobre saúde auditiva, audiometria tonal aérea e responderam ao questionário que avalia a percepção da incapacidade auditiva (HHIE – Hearing Handicap Inventory for the Elderly). Dados do estado cognitivo foram coletados no prontuário dos pacientes. Resultados: Foram avaliados 32 pacientes. Os resultados obtidos na amostra avaliada mostram que houve maior incidência de audição normal (59,38%) e pacientes com curva audiométrica descendente (59,38%). A perda auditiva mais encontrada foi a neurossensorial de grau leve (40,62%). Não houve correlação significativa entre o escore total do do MEEM ou funções específicas avaliadas pelo mesmo e perda auditiva. Foi identificada associação significativa entre o grau de perda auditiva para a limitação social do HHIE, em que pacientes com grau leve de perda auditiva apresentaram limitação maior no domínio social quando comparados a pacientes com audição normal. Não houve associação significativa entre o grau de perda e a classificação geral do HHIE. Conforme esperado, houve associação significativa da escolaridade com a classificação do MEEM, portanto, quem apresentou até 8 anos de estudo teve 81,9% menos chances de ter a classificação do MEEM alterada em comparação a quem tem até 4 anos de estudo. Ao observarmos a predominância da curva audiométrica descendente, com características de presbiacusia, consideramos que a capacidade auditiva dos pacientes deve ser monitorada. Concluímos que, ainda que não tenha sido encontrada associação significativa entre a perda auditiva e o desempenho nos testes de rastreio cognitivo, a diminuição da acuidade auditiva foi associada a uma maior limitação social observada nos resultados do HHIE, fator que pode intensificar o isolamento que pessoas com demência frequentemente experimentam.
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