IMPACTOS NA AUDIÇÃO, ATIVIDADE CORTICAL E DESENVOLVIMENTO INFANTIL EM BEBÊ COM NEUROSSÍFILIS: ESTUDO DE CASO
I.C.V. ;
T.S.O. ;
A.B.S. ;
J.S.B. ;
A.D.S.N.A. ;
M.T.A.L.B. ;
E.M. ;
S.A.B. ;
Introdução: No Brasil a taxa de incidência da Sífilis Congênita (SC) é de 9,9 casos /10000 nascidos vivos(1). Se não tratada adequadamente, pode causar diversas alterações ao nascer ou durante os primeiros anos de vida(2), incluindo perda auditiva sensorioneural. A SC é frequentemente assintomática, sendo sua detecção dependente dos exames realizados(3). Respostas eletroacústicas de crianças expostas à sífilis podem ser discretamente inferiores se comparadas à população de baixo risco(4), com impactos em seu desenvolvimento. Objetivo: Descrever os achados de avaliação audiológica, da atividade cortical e do desenvolvimento infantil de um bebê com diagnóstico de neurossífilis. Metodologia: Estudo de caso aprovado em Comitê de Ética em Pesquisa (CAEE 55751222.3.0000.5292). Bebê de 4 meses, sexo feminino, com diagnóstico de neurossífilis. Informações de pré-natal e histórico gestacional fornecidas pela responsável. Foram coletadas da caderneta da criança: idade gestacional, peso, perímetro cefálico, estatura, Apgar, VDRL. Realizada avaliação auditiva, atividade cortical para estímulos de fala e de desenvolvimento, com os procedimentos: timpanometria de 1.000 Hz, emissões otoacústicas evocadas transientes (EOAT), potencial evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE) clique em 80 e 30 dBNA, frequency-following response (FFR) com estímulo /da/ de 170 ms e espectrografia funcional de infravermelho próximo (fNIRS), com estímulos /da/ e /ba/, Escala de Desenvolvimento Bayley-III. Resultados: O bebê nasceu com 39 semanas e dois dias, 3.475 kg, perímetro cefálico 34,5 cm, estatura 51,5 cm, Apgar 9’ no primeiro e quinto minutos. Apresentou hiperbilirrubinemia (fototerapia por 3 dias), VDRL de 1:32 e exame de líquor cefalorraquidiano com 64 células (padrão: até 25 células). Realizou tratamento com penicilina cristalina (10 dias), sendo diagnosticada com neurossífilis na alta hospitalar. Resultado passa na triagem auditiva neonatal com EOAT. A mãe referiu que o diagnóstico da sífilis ocorreu na primeira consulta pré-natal, com VDRL de 1:64; mãe e parceiro receberam tratamento com Benzetacil (três semanas). VDRL pós tratamento de 1:32, mantendo-se no parto. Retornou para avaliação pediátrica aos 4 meses. Avaliação audiológica com curvas timpanométricas tipo A, EOAT presentes em todas as frequências, ondas I, III e V presentes a 80 dB nNA (aumento da latência das ondas III e V, interpicos I-III e I-V) e presença da onda V em 30 dB nNA no PEATE clique. No FFR observadas respostas bilateralmente com diferenças entre orelhas, neurolag de menor duração e amplitude espectral maior dos harmônicos na consoante e na vogal da orelha direita. PEATE clique e FFR dentro do processo típico do neurodesenvolvimento. fNIRS com maior amplitude no estímulo frequente /ba/ em comparação ao /da/ e maior ativação observada nos canais anteriores à direita. Escala Bayley com desempenho borderline para Cognição e Linguagem Receptiva, abaixo da média para Linguagem Expressiva e Motor Fino e acima da média para Motor Amplo, com desempenho abaixo do esperado na análise global. Conclusões: A descrição deste caso clínico evidenciou desenvolvimento dentro do esperado para audição, com respostas corticais aos estímulos de fala, porém, presença de atrasos no desenvolvimento, particularmente na linguagem expressiva e motor fino.
1 Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância. Boletim Epidemiológico de Sífilis. Número Especial, Out. 2022. Ano 6 – nº 01, Tiragem: 150. ISSN: 2358-9450. https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2022/boletim-epidemiologico-de-sifilis-numero-especial-out-2022/view
2 BORGES, Isabela Colem Castelo; MACHADO, Carla Jorge. Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS-SP. Coordenadoria de Controle de Doença, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Guia de bolso para o manejo de sífilis em gestante e sífilis congênita. 2ª Edição. São Paulo: Secretaria de Estado da Saúde; 2016. 2019.
3 BESEN, Eduarda et al. Sífilis congênita associada à perda auditiva neonatal: revisão sistemática. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 49, n. 4, p. 107-120, 2020.
4 RIBEIRO, Georgea Espindola et al. Impacto da exposição à sífilis materna no sistema auditivo de recém-nascidos. Audiology-Communication Research, v. 26, 2021.
5 MAO, Darren et al. Speech token detection and discrimination in individual infants using functional near-infrared spectroscopy. Scientific reports, 11(1), 24006. 2021.
DADOS DE PUBLICAÇÃO